Explicando a solidão (pra quem nunca se sentiu sozinho).



Quando as pessoas me conhecem e descobrem o modo como eu vivo, elas fazem uma careta e me perguntam o por quê, mas é tão difícil explicar o que é solidão para quem nunca se sentiu sozinho. Não encontro muito sentido em contar os motivos de eu ser tão louca e livre a um ponto quase mortal para aqueles que não sabem como é se sentir frágil. Para quem não tem ideia de como as garras da fome, do frio e do escuro apertam doído e te transformam em frangalhos. É tão complicado desenhar o que é medo para aqueles que não entendem nada sobre desespero. Para quem tem um lugar seguro onde repousar a cabeça e, independente do que aconteça, sempre terão um lugar para onde voltar. 

Eu era uma garota diferente. Meus jeans rasgados e tênis sujos não deixavam dúvida disso. Eu não tinha pra onde ir, nenhuma casa para chamar de lar, e nenhum ombro amoroso para ser só meu. A minha vida se transformou nas lembranças dos outros, e a minha casa era a esquina de qualquer lugar. Eu me alimentava das suas histórias e sonhos, e sorria ou chorava com eles. Era mais fácil do que encarar os demônios que eu guardava no bolso da velha jaqueta de couro. Eu era uma céu em plena lua nova! Um firmamento sem estrelas. Uma garota que se alimentava das recordações de uma época em que era uma constelação tão viva quanto a via láctea, onde cada estrela cadente era um sonho diferente. Entretanto, viu cada desejo morrer, um por um, lento e gradativamente. 

Havia um frenesi devastador dentro de mim! Movido pela vontade de provar todos os gostos do mundo e de quebrar todas as regras, tão imenso quanto o oceano e eu me afogava nele a tal ponto que eu não conseguia sequer voltar a superfície para falar sobre. Eu fazia a minha história e vivia intensamente! Sem me apegar as opiniões alheias ou aos comentários maldosos. Eu apostava alto na minha loucura, pois eu não tinha nada a perder. E a única moeda que eu conhecia para pagar pelo preço de ser um espírito indomável eram as lágrimas. Toda via, como explicar o valor caro disso para quem não sabe o que é ter que morder a própria mão para abafar o choro na falta de um travesseiro? 

Eu mandava no meu nariz e isso causava espanto. Havia dias em que me amava, e na maioria eu não suportava sequer olhar o meu reflexo. Então eu quebrava todos os espelhos espalhados por aí, e depois varria pra debaixo do tapete, lugar onde eu já escondia o resto dos cacos do que sobrara de mim. Mas eu era dona do meu corpo, e por isso eu fazia com ele o que eu bem quisesse. A vida era muito curta para não gozar a todo instante. Eu tentava encontrar felicidade em cada canto, e se eu não achasse, eu me sustentava sozinha! E que se dane os que me olhassem torto por isso. As pessoas irão prender a sua alma nas celas do "certo" e do "errado" se você permitir, mas eu era rebelde demais para me preocupar com isso. Eu não tinha limites, até porque, o que seria a dor para quem vive em uma eterna agonia?

Jessy Mendes

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