Mais uma noite perdi o sono. Só hoje, de novo, pra variar. É que, geralmente, eu sou estranha, dessas que em alguns momentos é destemida como Sansão, mas em outros é medrosa como uma criança mimada. Eu também sinto medo, odeio confessar isso, mas há quem goste? Meu quase um metro e setenta de altura não parece grande o suficiente para acalmar os enormes temores de criança pequena dentro de mim. E então, na madrugada, enquanto sinto medo até dos menores ruídos, eu fico olhando atentamente pela janela, porque a certeza de que naquela escuridão a fora existe alguém tão solitária e perdida quanto eu, me acalma. Enquanto me sinto tão pequenina, eu percebo que o mundo é muito grande para eu ser a única com os cabelos do braço arrepiados pelo vento, procurando alguma estrela nesse céu apagado de cidade grande. E eu fico me perguntando se entre aqueles rostos desconexos, que passam pela calçada, existe alguém lunaticamente sóbrio como eu. Alguém que entenderá que, às vezes, meu sorriso também é triste, e que por trás da postura dura que carrego, existe um monte de marshmallow. A vida bate com vareta e a gente aprende que quanto maior o medo, mais forte é a armadura nos protegendo. E eu sou assim. Sou dessas que nunca pede carinho, muito menos atenção, mas deseja os dois em exagero. Fico pensativa quando estou triste, porque passei mais da metade da minha vida sem ter ninguém com quem dividir esses momentos. Mas não tem importância se ainda está escuro e não há ninguém acordado por perto. O vento faz minha pele arrepiar com um carinho gélido. E ele também bagunça o meu cabelo, porque na solidão da noite, alguém sabe que as lembranças que carrego são duras, mas meu coração é frágil e singelo.


Jessy Mendes