Gota a gota se forma um oceano, mas, entretanto, e todavia, gota a gota um mar inteiro também se seca. E você pode ate fingir que está tudo bem, lutar contra os fatos ou tampar o sol com a peneira. Você pode dizer para si mesma, ou para os outros, que não percebeu como a água que cobria sua cabeça, agora mal bate na sua cintura e fingir, novamente, que está tudo bem. Mas, minha amiga, um dia você vai colocar seu biquíni, como colocou em tantos outros dias, vai chegar à praia e vai tentar entrar na água, mas ela não vai bater nem nos seus pés. Não haverá uma poça sequer, sabe por quê? Porque, sem perceber, ou talvez fingindo não perceber, gota por gota, o mar inteiro secou. Pode trazer baldes de água e molhar o corpo todo. Se você fechar os olhos por um momento, quem sabe, dá até pra acreditar que tudo ainda está perfeitamente bem e se sentir grata. Mas quando o sol bater forte, você abrirá os olhos e irá perceber que não é mais suficiente. OK. Pode trazer uma mangueira também, se banhar toda, fazer um buraco na areia, encher de água e pular dentro. Mas, ainda sim, eu te garanto que, em alguns poucos dias, a água irá vaporizar por inteira. É triste, eu sei, mas tem vezes que a gente acredita que nada seca, nada acaba ou nada quebra. Mas as coisas, quando não cuidadas com devido valor, se esgotam. Até uma fogueira, se você não coloca brasa suficiente, apaga. Um oceano não seria diferente. Para te provar, com mais um exemplo, como as coisas são, eu digo: Quebra um copo, todos os dias, pra você ver. Não há super-bonder que aguente.
Pois é... Não há mar que aguente não ser cuidado. Não há fogueira que dure muito sem madeira e não há copo que aguente ser quebrado em tantos pedaços. Não adianta! Eu até quis ser um oceano, lutei com unhas e dentes para ser sempre uma fogueira e não quis aceitar quando me disseram que eu já não era mais um copo, eu era apenas um monte de caco colado. Mas a verdade é que, enquanto observo o vento forte fazer minhas chamas quase se apagarem, enquanto percebo que não sou mais um copo bonito, e enquanto observo você na praia, vestida com o biquíni de sempre, agindo como se o oceano não estivesse vazio, como se eu não estivesse quebrada ou com as chamas fracas, eu sempre me pergunto: E eu? Mas mais uma vez você me esqueceu. Só que eu não posso mais me esquecer de mim. Gota a gota o oceano secou. Gota a gota o meu amor acabou.

Sei que parece clichê, mas entrei de cabeça naquela onda de dar valor ao próximo. Não me amou, não cuidou ou abusou da minha paciência? Próximo! Não sou obrigada a me acostumar com a sola dos seus sapatos. E sabe de uma coisa? Hoje acordei leve, consegui comer sem travar o estômago e consegui gargalhar sem medo de soar muito alto. Pois é, eu tinha medo do meu tom de voz quando estava com você. Até tentei ficar de luto, fazer greve de fome, me afundar no oceano de lágrimas que criei em minha cama, mas não deu.  Quis fazer birra e até tentei forçar um luto esperando você voltar, mas a verdade estava estampada na minha cara! Não houve morte para o que nunca existiu, não existe fim onde nunca houve um começo. Resolvi então me despedir do seu fantasma, dos pedaços de você que eu ainda tentava carregar e fui ser feliz! Acordei, tomei um banho e dei tchauzinho enquanto a culpa que você tentou colocar em mim escorria ralo abaixo. Foi triste desistir de nós, desistir de você e desistir da pessoa que eu queria que você tivesse sido. Abrir mão do carinho e do amor que queria ter recebido, mas que eu nunca recebi, e nem receberia, né? Comprei meio litro de Coca, atravessei o sinal aberto correndo só pra sentir a adrenalina nas veias, e até estudei estatística. Sentei no chão só para lembrar que eu não ligo se a calçada está meio molhada e andei na chuva sentindo as gotinhas com a boca aberta. Pois é! Depois que eu enterrei a ideia de estar apaixonada pela pessoa que eu poetizei em você, eu me apaixonei por mim. Eu sei que é triste quando temos que jogar um amor tão lindo dentro da gente fora. Sei disso porque tive que deixar o meu em alguma esquina sem nome, junto com a prata que enfeitava meu dedo. No final do dia me olhei no espelho e me encontrei! Eu estava meio perdida entre onde começava o ‘eu’ e terminava ‘você’. Sorri para o meu reflexo, esperançosa. A vida segue, eu sei e a melhor parte de mim também sabe. 

- Jessy Mendes


Ouvi dizer que a língua é o músculo mais forte do corpo humano. Até aí tudo bem, porque conheço um pessoal que mente tanto, que se a língua deles não fossem mesmo de ferro, elas cairiam junto com suas mentiras descabidas. ''Eu te amo'' e ''Confie em mim'' são figurinhas repetidas no álbum ''A mentira que os outros contam''. Mas, no meu caso, eu acho que o meu coração que é o músculo mais forte, porque ele vive sendo quebrado e ainda sim, continua se regenerando. Tudo isso, infelizmente, sozinho. Estou cansada de lobos em pele de cordeiro, amargurada com essas princesas que acabam mostrando as verrugas no nariz com o tempo. Cansada de ser a mocinha, eu até tento ser má, mas você sabe que sou altruísta e acaba tirando proveito disso. Mas dessa vez chega! Papai Noel vai me perdoar por não ser uma boa menina com você, e vai me deixar um coração novinho, onde você nunca mais colocará os pés. E nem vem pois foi você quem errou, meu bem. Mentiu, enganou, usou, descartou e, quer saber? Vou sair por aí agora e me reciclar. Te esquecer! E vai à merda com o tempo. Não importa quantos dias durou, o importante foi a intensidade com a qual me entreguei e confiei em você. Só que você não deu valor, não foi? Pode me chamar de exagerada, tô nem aí. Eu adoro amores inventados e o Cazuza disse que não tem nada de errado com isso. Mas não! Não vou te dar rosas roubadas e nem morrer de fome se você não me amar. Então não vou tentar ser romântica e dramática por nós duas. Não vou tentar curar sozinha as feridas que você fez. Chega! Não vou mais me reconquistar pra você. Eu vou é pegar o meu coração novo e seguir para bem longe, sem você. Enquanto isso vou me encher de tudo que você não gosta até provar pro meu coração que estou melhor sem você, e vou pular carnaval quando isso se tornar realidade. Sabe o que é, eu quero alguém que me ame, mas não como você ama. Alguém que permaneça! Que minha presença seja o bastante para torná-la feliz. Quero alguém que ria comigo ao atravessar o sinal aberto e que venha correndo só pra me ver sorrindo. Que queira meus cuidados quando estiver doente, e que trema da cabeça aos pés ao lembrar de mim, inundada de desejo. Quero atitudes, loucuras e provas! Já chega de palavras. Palavras não servem para nada, essas aqui então, não servem nem para te trazer de volta. E hoje eu tenho toda a certeza que as suas palavras eram extremamente vazias. Já chega! Não vou deixar mais ninguém pisar em mim. Seja com seu salto alto ou com seus tênis não importados. É um texto triste e pesado, não é, meu bem? Eu sei. Mas como escreverei algo bonito se a mentira transformou tudo que tivemos em algo feio e drástico? Não ‘‘amor ’’, não peça mais desculpas, elas não vão mudar as coisas. Desculpas não colam nada, mas se você soubesse o quanto atitudes fazem uma diferença.
Parece irônico, talvez até engraçado, que você tenha me perguntado, um dia desses, por que meus textos eram sempre sobre alguém que ia embora. Pois então, meu bem, é porque vocês sempre vão embora e o que me resta é isso, transformá-las em textos.

- Jessy Mendes



 
Aquariana e pseudo-escritora frustrada. Mas só isso não basta. Perdida entre menina, mulher ou garota lunática. Sou dramática, dessas que transforma qualquer gota em enchente e não dessas que transforma qualquer gota d’água em oceano. Até porque o mar é demasiadamente lindo, agora as enchentes, essas sim, são trágicas.
Mato tia, avó e até prima distante só pra faltar no trabalho. Mineira que puxa o ''r'' e é cheia de sotaque. Dou birra quando minha mãe diz que devo deixar de ser criança, mas fico uma fera quando me chamam de moleca. Alugo filme infantil e vivo acreditando em contos de fadas. Aí vem algum filho de uma puta, quebra meu coração e eu sempre prometo que nunca mais acreditarei no amor de ninguém e que jamais serei enganada novamente. Algumas semanas depois e lá estou eu babando ovo em outro alguém, toda encantada, me contradizendo. Transformo tudo que eu sinto, que vejo ou que mexe de algum modo com meu coraçãozinho em texto. Aí sempre ganho fama de exagerada, mas tudo bem, eu sou mesmo. Tiro foto de criança correndo, casal andando de mãos dadas e até de Ipê amarelo. Mas é que sou boba, dessas que faz romantismo com tudo, até com casca de árvore e sacolinha de plástico sendo levada pelo vento. Sou estranha que não fala nada com nada e constantemente é motivo de piada. Não entendo nada de moda, mas sou apaixonada em roupa de couro e Allstar vermelho. Grito e paro que nem doida no meio da avenida quando vejo a lua brilhando no céu, tão única e linda. Eu acho que Deus foi perfeito em muitas coisas, mas quando ele fez a lua... Ah, a lua me fascina, aí como sou muito romântica, boba e não tomo jeito, eu sempre peço bem baixinho para que ela me ilumine. Sou estranha que bagunça o cabelo quando pretende arrumá-lo e também sou estranha quando... Aff, olha só, na verdade eu sou estranha o tempo inteiro. Estou sempre atrasada para a primeira aula, não entendo nada na área de exatas e gosto de desafinar debaixo do chuveiro. Amo andar na chuva e acho esquisito esse povo que se acha feito de sal, açúcar ou tem medo de molhar o cabelo. Às vezes acho que sou santinha, mas aí meu pai diz que sou rebelde, algumas pessoas me acham uma gracinha e a maioria das outras não me entendem. Eu não estou nem ligando, eu também não me entendo. Mas se você quiser descobrir quem eu sou é fácil, me dê um copão de açaí com paçoca que aí sim, a gente sente e conversa.
06/01/12

Enquanto a chuva caia forte e a gente nem percebia, me deu vontade de fazer uma loucura. Mas roubar um banco ou roubar o guarda-chuva de uma velhinha me pareceu peixe pequeno. Deu vontade de roubar um beijo, nem que fosse para provar seus lábios naqueles mínimos segundos, antes que viesse um tapa ou um não bem grande na cara. É, deu vontade de te roubar um beijo, só pra verificar se a textura macia dos seus lábios nos meus sonhos estava correta. Deu vontade de te roubar um beijo molhado de chuva, mas fui para casa sozinha, imaginando como seria se vivêssemos em um filme sem gênero, onde mesmo depois daquele tapa, você me puxaria de volta em algum outro momento. Deu vontade de te jogar na parede, de pular na frente do carro, de dar estrelinhas ou fazer todo um espetáculo no sinaleiro, não para que você me pagasse com moedinhas, mas sim com aquele beijo. Tudo bem, cenário perfeito, chuva caindo e eu... Encharcada. Encharcada de vergonha e medo. É assim que sempre me sinto, mesmo com um calor dos infernos. Aí o beijo foi na bochecha mesmo, sem estralo, apenas com aquele barulho enorme do silêncio. Mas não tem problema porque eu te quero, te quero até no silêncio. Meus sonhos pseudo-românticos zombam de mim, provando que me gabar por te esquecer é bobagem. Que vou querer roubar vários beijos mesmo sem chuva, sem morangos, sem assalto a velhinhas ou sem sinaleiros. Mas ah, quer saber? Esquece esse beijo. Vou devolver o guarda chuva da velhinha, usar as moedinhas do meu espetáculo imaginário no sinaleiro e comprar uma Coca. Vou parar de dar estrelinhas na chuva e apreciar as que estão no firmamento e vou desligar a TV, porque o nosso filme sem gênero acabou e não importa quantos ‘’Bombril ou Assolan’s’’ eu coloque na antena, a TV a gato pifou. Vou embora com minha Coca e sem aquele beijo, em silêncio, não tem problema. Eu sei e sei que você também sabe que eu te quero, te quero mesmo no silêncio. No sussurro frenético da chuva e no silêncio brando da madrugada. 

- Jessy Mendes





Texto 1
Todas as noites antes de ir dormir, eu sei que eu sou apenas uma pequena menina tentando ser grande. Com minhas mãos no chão eu tento não cair, só que às vezes eu ainda tropeço. Mas, indiferente a altura da queda, eu me levanto! Pois, diferente dos dedos que apontem e riem dos meus machucados, eu sinto o maior orgulho das minhas cicatrizes.


Texto 2
 Eu sei que você queria poder resolver tudo por conta própria, mas querida, o mundo é muito pesado! Você não é a gravidade, não pode carregar tudo sozinha. Eu posso sentir exatamente o que você sente quando seu coração está chorando tão solitário. Todo mundo diz que você é uma aberração só porque você é diferente. Eu posso ouvir o seu grito mudo enquanto você olha para o espelho querendo ser ''normal'' como eles. Você se esforça tanto, mas, será que eles virão te consertar quando você se transformar em pequenos pedaços de um espelho quebrado?

06/11/10